sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Adaptação de Rubião




A peça "O Amor e Outros Estranhos Rumores" esteve em cartaz no TUCA, em São Paulo, e estreou no dia 16 de Outubro, tendo seu encerramento no dia 28 de Novembro. Minha expectativa para a peça era muito boa, mas o resultado final ainda sim conseguiu me surpreender. Baseada em três contos de Murilo Rubião (1916-1991), a primeira vista, a obra causa um estranhamento no espectador, pois o tira de seu lugar comum e tem como tema central a falta de explicação racional para os fatos que ocorrem na vida das personagens, a falta de rumo dessas personagens durante a trama e ainda trabalha com situações dignas de uma obra de Kafka, principalmente representadas pela figura do coelho.

Os três contos presentes na peça são: “O contabilista Pedro Inácio", no qual o protagonista é um homem que vive fazendo contas e contabilizando o quanto já gastou em seus relacionamentos (seguidos de decepção) amorosos; "Bárbara", que conta a história de um marido que é submetido à realização dos desejos de sua esposa gananciosa e sempre insatisfeita com o que tem; e por fim, o último conto adaptado é "Godofredo", em que o protagonista tem uma relação conturbada com o casamento e a solidão.

Dirigida por Yara de Novaes e protagonizada por um elenco de grande qualidade do Grupo 3 de Teatro, com a presença de Débora Falabella, Maurício de Barros, Priscila Jorge e Rodolfo Vaz, a peça tem por característica a criação de uma realidade interna dentro da narrativa, pois os acontecimentos fantásticos que vemos no palco não são comuns no nosso cotidiano (como a mulher que engorda a cada pedido que realiza, por exemplo), mas se apresentam como fatos criveis dentro da proposta da obra.



É uma pena que apenas tenha conseguido conferir “O Amor e Outros Estranhos Rumores” e postar algo a respeito apenas agora que o período de exibição já se encerrou, porém a dica continua sendo válida, pois o seu retorno está previsto para janeiro do próximo ano.

A nova temporada começa no dia 14 de janeiro de 2011 e se estende até o dia 13 de fevereiro do mesmo ano. Para quem ainda não teve a chance de conferir a peça, essa será a próxima oportunidade, não perca!

Postado por Thiago Garcia

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Amor e Outros Estranhos Rumores


A peça "Amor e Outros Estranhos Rumores" teve seu final de temporada, neste último domingo (28 de novembro) e o Folha de Macieira esteve lá para conferir. Este post faz parte da disciplina Literatura e Dramaturgia e portanto, haverá um post diferente de cada membro do Folha.

Adaptação de três contos do escritor mineiro Murilo Rubião que tem sempre o amor como foco (aliás, para total compreensão da peça, em especial suas metáforas, é recomendada a leitura desses contos), a peça conta com Débora Falabella, Maurício de Barros, Priscila Jorge e Rodolfo Vaz, sob a direção de Yara Novaes (que já dirigiu também a adaptação de "As Meninas" de Lygia Fagundes Telles).

A premissa da peça parte de três pessoas que se encontram sempre na mesma situação - tem seus bilhetes de passagem sem data, horário e muito menos destino. Passa a se acompanhar então, o desespero deles para sair daquele lugar, em uma situação que lembra um pouco a obra de Kafka.



Os personagens vão sendo desenvolvidos e somos apresentados a várias esquisitices de cada um deles. Pedro Inácio tenta contabilizar o quanto se gasta com o amor - incluindo até os chicletes - e passa muito tempo fazendo suas contas. Já Bárbara é uma esposa insatisfeita que vive fazendo pedidos megalomaníacos a seu marido. Ela passa a se empanturrar dos mais diversos alimentos até ficar tão gorda que chega a explodir (em uma cena muito engraçada).
Por fim, Godofredo é um homem que se casa muitas vezes mas acaba farto de suas mulheres e as mata. Vivendo esse paradoxo entre não suportar nenhuma mulher mas também não suportar a solidão, esse personagem nos faz refletir sobre os relacionamentos.

Divertida e fantasiosa, "Amores e Outros Estranhos Rumores" vale uma visita ao TUCA (teatro da PUC) quando retornar em sua próxima temporada, em 2011.

por Paulo Pivetta

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Culturópole

Peço licença aos leitores do Folha de Macieira para uma breve promoção de meu blog pessoal, o Culturópole.
O Culturópole aborda alguns dos mesmos temas do Folha, mas também vai mais a fundo em críticas de literatura, cinema e teatro. O último post é uma avaliação do livro Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, de Leandro Narloch.

Espero a sua visita =)!


terça-feira, 30 de novembro de 2010

Avaliação geral do Folha de Macieira

O blog Folha de Macieira foi criado no começo do semestre para a matéria de Comunicação e Hipermídia, com a intenção de publicar as novidades entre as novas mídias no campo da comunicação em geral.

Desde o começo do blog, as postagens se tornaram amplas, variando desde críticas sobre cinema até o entendimento de novas mídias.

As visitações no blog atingiram um número aceitável, o que já era esperado para um blog iniciante, mas esses visitantes não produziram comentários acerca de nossos posts.

Em geral, apesar da falta de comentários, acreditamos que, pela reação de nossos colegas de sala, o resultado final do blog foi razoável.

A aprendizagem não se deu apenas com a nossa produção indivídual de nosso blog, mas com a observação dos outros blogs de nossos colegas.

A descoberta desse meio muito importante da comunicação na internet hoje foi muito útil, inclusive para o mercado de trabalho.

O blog vai continuar ativo, no mesmo ritmo que vem sendo levado e esperamos um maior número de visitas e comentários em breve.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Tetro


Bennie, um rapaz prestes a completar 18 anos, vai visitar seu irmão, há muito sumido, na Argentina.

Lá, Bennie encontra uma pessoa completamente diferente daquela que lhe deixou um comovido bilhete de despedida fundado na promessa de um dia retornar para buscar o irmão mais novo.

Tetro, irmão de Bennie, teria se mudado dos EUA pra Argentina na esperança de se tornar um escritor, tarefa que acaba deixando de lado. Agora, vivendo com sua namorada Miranda, Tetro vive uma vida sem ambições e seu jeito introspectivo revela que esconde segredos.

Filhos de mães diferentes, sabemos, logo de cara, que ambos fogem de algo – o pai –.

Todo o filme se desenvolve em ritmo com a relação entre os irmãos, uma relação que Tetro, evidentemente, evita.

Fica bem claro, logo de inicio, que é esta mesma relação que vai trazer à tona os segredos sobre a vida de ambos e é por meio de um romance inacabado de seu irmão que Bennie vai remontar sua própria história, esperando que o irmão lhe dê o toque final, que falta na obra, capaz de fechar o mistério sobre sua própria vida.

Em linhas gerais, Tetro – o filme – é isso, um romance de proporções trágicas que monta o retrato familiar como um espaço de mentiras, mágoas e ressentimentos.

O pai de ambos, um maestro de renome, frustra deliberadamente os sonhos dos filhos ao ofuscar-lhes com seu brilho musical.
Isso é o que vamos descobrindo ao longo da película, que alterna presente e passado.

O choque estético, ainda, entre presente e passado, causa um baque entre um passado real, concreto e palpável, onde as verdades daquele mundo maquiavélico, forjado pelo pai, machucam os filhos, e um presente quase lúdico, onde mentiras preservam a distancia abismal entre os irmãos.

Aos poucos descobrimos que Tetro causou um acidente de carro que levou sua mãe à morte.


Num filme de vasto repertório de significados e simbolismos, talvez esta cena da morte da mãe seja a de maior importância na chave simbólica.

Logo após bater o carro, uma luz do carro da frente ilumina o rosto de Tetro, enquanto ele a encara fixamente.

Quando chega no local do acidente, o pai de Tetro o encara magnânimo, como que pondo o filho sob um holofote e lhe dizendo que estava decepcionado pela tragédia que trouxe à família, mas que sendo, ele próprio, superior, poderia perdoar o filho.

É recorrente esse simbolismo da luz, de modo que Tetro se torna iluminista num teatro em Buenos Aires, na expectativa de tirar de cima dele os olhares possíveis, como os que o pai lhe dirigira a vida toda.

Ainda assim, esse é apenas um de um vasto repertório de significados engendrados de uma estética impecável. Estética que suporta um momento presente, na narrativa, onde tudo é incerto, ainda mais pelo olhar de Bennie, que tateia seu caminho em direção a verdade sobre sua vida.

Numa cena emblemática, também, antevendo que os segredos sobre seu passado e de seu irmão viriam a tona, Tetro fala à sua namorada – Bennie is... –.

Interrompendo a fala, ele toma assento no banco de passageiro de um carro, mesmo lugar onde sua mãe morrera enquanto ele dirigia, referindo-se ao fato de que seu irmão, como ele conhecia até então, seria morto pelo que Tetro viria a contar-lhe.

Nasceria, então, um novo Bennie, livre das mentiras em que o pai o envolvera, e ao irmão.

Fora de um mundo forjado pelas mentiras do pai, ambos sairiam do holofote que impedia-lhes de seguir uma vida própria. E é no funeral do pai, já ciente das verdades sobre sua vida, que Bennie lança fogo sobre o retrato do maestro soberano.

Num momento tipicamente trágico, então, o fogo – símbolo maximo da técnica – consome a imagem daquele que tão bem soube dominar instrumentos.

A imagem do patriarca é, finalmente, deformada, quando expostas suas mentiras.

Quanto à contextualização do filme, Coppola ambienta seus personagens na passional Buenos Aires, à se esperar que ajam em correspondência.

Nesse ambiente não há um elemento ou personagem que não suporte o trajeto de Bennie – saindo de seu mundo de mentiras e abrindo espaço pelo mundo fechado das verdades que só o irmão conhece –.

Assim, ainda, Tetro tira de si o fardo da verdade.

Nesse ponto, é interessante o trabalho de espelhos que Coppola cria, onde, para poder traduzir o romance autobiográfico do irmão, escrito em código (ao inverso), Bennie precisa de um espelho, no sentido de que ao traduzir as palavras, o espelho revela a face do próprio Bennie.


Tetro é, enfim, um filme pensado com o brilhantismo de seu diretor e trabalhado por mãos impecáveis, capazes de fazer compreensíveis toda uma gama de significados que suportam aquilo que poderia ser só mais um drama familiar besta, mas que, por assim ser bem feito, se torna um texto trágico e belo.

Ainda, talvez, o final do filme, num instante mais imediato, pareça um tanto arrastado, mas após digerido fica fácil ver que cada “falso” clímax atenta o espectador para um desfecho perfeito.