terça-feira, 21 de setembro de 2010
Sorria, você está sendo filmado
Com o avanço tecnológico e uma constante mudança nas mídias de comunicação, tem-se reações positivas e negativas a cada uma delas. Cada progresso envolve uma série de mudanças de costumes e hábitos às quais a sociedade aprende, por obrigação, a se adequar.
Não é de novidade para ninguém que o rock and roll, com seu estilo irreverente, faz uma pesada crítica ao governo e à sociedade em geral.
Ao longo das décadas, as bandas de rock and roll, com seus músicos cabeludos, tatuados e que usam roupas de couro, mostraram sua irreverência e seu combate aos modos sociais e políticos de diversas formas, tanto em seu modo de se vestir, maquiagens (como a clássica maquiagem espalhafatosa do Twisted Sister, em que o vocalista Dee Snider se veste como uma velha prostituta e usa no rosto uma maquiagem exagerada com as cores da bandeira dos Estados Unidos), quanto nas letras de suas músicas.
Por seus modos de vestimenta e costumes, foram repudiados pelos mais conservadores da sociedade, sem sequer prestar atenção no que eles estavam dizendo, baseando-se apenas em sua aparência.
O que é sim novidade para muitos, infelizmente, é a profunda crítica realizada por eles em suas letras de músicas.
Bandas como Black Sabbath, Twisted Sister, AC/DC, Alice Cooper, Deep Purple, Rush, Iron Maiden, Dio, Judas Priest, Kiss, Ozzy Osbourne, entre outras, são os principais nomes desse estilo musical e que ainda são mau-vistas ou até desconhecidas por muitos na sociedade.
Infelizmente, em uma sociedade onde os jovens têm acesso à música com a MTV e a “89 FM – a rádio rock” (que de rock não tem nada há muito tempo), essa situação já era esperada.
Um bom exemplo para análise dessa situação se encontra na música “Electric Eye” da banda Judas Priest, lançada no álbum Screaming for Vengeance de 1982.
Música: Electric Eye
Banda: Judas Priest
Up here in space
I'm looking down on you
My lasers trace
Everything you do
You think you've private lives
Think nothing of the kind
There is no true escape
I'm watching all the time
I'm made of metal
My circuits gleam
I am perpetual
I keep the country clean
I'm elected electric spy
I'm protected electric eye
Always in focus
You can't feel my stare
I zoom into you
But you don't know I'm there
I take a pride in probing all your secret moves
My tearless retina takes pictures that can prove
I'm made of metal
My circuits gleam
I am perpetual
I keep the country clean
I'm elected electric spy
I'm protected electric eye
Electric eye, in the sky
Feel my stare, always there
There's nothing you can do about it
Develop and expose
I feed upon your every thought
And so my power grows
I'm made of metal
My circuits gleam
I am perpetual
I keep the country clean
I'm elected electric spy
I'm protected electric eye
Protected. Detective. Electric eye.
Como pode ser visto na letra da música, fala-se em um Olho Elétrico que pode ver tudo que acontece, todas as suas ações. Não pode ser visto, mas é sempre temido. Sua retina que não chora pode ver todos os seus movimentos mais secretos.
O que acontece hoje em dia conosco? Vivemos em um mundo cercado por câmeras, estamos constantemente sendo vigiados realmente, vemos em todo lugar a mesma placa: Sorria, você está sendo filmado. Vivemos sim, cercados e vigiados pelo Olho Elétrico.
Vamos ainda além.
O jurista britânico Jeremy Bentham desenvolveu um modelo de prisão chamado Panóptico, em que todos os presos podiam ser vistos por um guarda em uma prisão circular, mas nunca conseguiam ver esse guarda, que ficava no centro da prisão e com uma visão privilegiada do todo.
Esse modelo de prisão pode ser associado com essa constante vigilância de todas as pessoas nos dias de hoje.
Máquinas nos observam o tempo todo, registram tudo que acontece em todo lugar (seja com uma câmera no estacionamento de um shopping Center, seja com a compra de um livro com a utilização de um cartão de crédito). Essas são as chamadas Máquinas de Vigiar, como diria o teórico da comunicação, Arlindo Machado. Esse seria o Electric Eye, como diria Judas Priest.
Essa relação pode ser facilmente estabelecida com o conhecimento desses conceitos.
Estamos sendo cada vez mais vigiados e monitorados, temos consciência disso. Como tudo que acontece, esse fato tem os seus prós e contras, seus defensores e seus agressores.
Electric Eye é apenas uma das várias músicas presentes na história do rock e que representam bem esse papel de percepção, consciência e revolta em relação ao que acontece dentro do sistema social. Outro exemplo clássico desse posicionamento acontece 10 anos depois com o lançamento do álbum Dehumanizer (algo que em português se poderia dizer como Desumanização) em 1992 pela banda inglesa Black Sabbath. Lançado na época em que o computador estava tomando muito espaço e importância nos meios de produção e no cotidiano da sociedade, juntamente com a televisão, o álbum traz faixas de pesadas críticas como TV Crimes e Computer God (que traz versos como: “Computerize god - it's the new religion” e “There's another side of heaven. This way - to technical paradise”). Esses são apenas alguns exemplos passiveis de destaque dentre muitos outros possíveis na história do rock.
Historicamente conhecidos por protestos contra o sistema social e governamental, essas bandas de “rebeldes cabeludos” têm, sim, muito a dizer.
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